3 de setembro de 2017

Propósito como finalidade

Gabriela Conde

Ansiedade, tristeza, senso de não pertencimento e desmotivação no trabalho podem indicar que o indivíduo esteja cumprindo uma função alienada, robotizada e não autoral. Segundo o filósofo, comunicador e professor Mario Sergio Cortella, em seu livro Por que fazemos o que fazemos?, o segredo para o reconhecimento profissional é identificar um propósito na atividade executada.

Um dos principais desafios das empresas atualmente é alocar funcionários em diversos setores e departamentos e fazer com que se sintam parte indispensável e fundamental para o funcionamento da organização; que sejam engajados com as atividades que executam e que tenham senso de pertencimento e reconhecimento com aquilo que produzem ou com o serviço que prestam.

Este também é um desafio para a nova mão-de-obra especializada. Em oposição à visão dos mais velhos acerca do que é o trabalho e a carreira profissional, os jovens se destacam por terem uma necessidade de executar funções que não sejam engessadas, robóticas e alienadas. Segundo Cortella, a expressão “Não me reconheço fazendo isso” ou “aquilo” resulta desta transformação da motivação no indivíduo.

A alienação do trabalho, termo preconizado pelo sociólogo Karl Marx no século XVIII, simboliza o não reconhecimento da mercadoria fabricada por parte do trabalhador, seu criador. Ela promove um senso de estranhamento na relação produtor e produto, uma vez que o trabalho deste produtor fora racionalizado, fragmentado e segmentado. Logo, por não participar e conhecer todo o processo produtivo da criatura, o criador – que antes de sofrer o processo de alienação da sua função, praticava um trabalho autoral e artesanal, sendo assim, reconhecia a mercadoria como obra do seu esforço – não tem mais consciência de que ela, mercadoria forjada por ele mesmo, seja fruto do seu trabalho.

Porém, apesar da alienação e dramática racionalização terem provocado no trabalhador certo distanciamento entre ele e a mercadoria, é importante destacarmos a importância que esses aspectos tiveram e continuam tendo para o desenvolvimento tecnológico no mundo, principalmente no Ocidente.

Surge então um desafio para gestores e líderes a fim de lidar com os novos jovens que adentram no mercado de trabalho: provocar o imaginário do funcionário a fim de se obter um trabalho autoral, artesanal e criativo, mantendo a eficiência da racionalidade. Desta forma, o indivíduo se aproxima mais da sua atividade e identifica propósitos para cumpri-la.

O trabalho realizado com propósito, em que o fim dele é identificado pelo indivíduo e que gera nele satisfação é, portanto, a maneira mais sustentável e sólida de desempenhar qualquer função. É necessário que o funcionário, mesmo que destinado a executar uma função mecanizada, o faça da maneira mais autoral possível, para que ele possa perceber a importância do seu trabalho no decorrer da produção.

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