18 de junho de 2017

Incoerências cotidianas

Kimberly Tuane Candido


O Pequeno Príncipe, apesar de soar como livro infantil, traz grande reflexão sobre como vivemos. Claro que uma criança – como eu que li pela primeira vez aos dez anos – não entenderia as metáforas por trás da aventura, mas agora relendo percebo a importância de cada aspecto do livro. O livro foi lançado em 1943 pelo autor francês Antoine de Saint-Exupéry.

Quando um aviador se encontra em meio ao deserto do Saara com seu avião quebrado, surge um menino misterioso. Este critica que as pessoas são condicionadas a pensar apenas com números, visar à quantidade e não a qualidade. Dá-se o exemplo de que quando esses avistam uma casa não contam às outras pessoas as características da casa, o que os impressionará é o quanto custa essa casa.

O narrador conta que após deixar seu planeta para fazer novos amigos, o Pequeno Príncipe visitou uma seria de sete planetas, cada qual representando uma característica da sociedade. O primeiro era habitado somente por um rei prepotente que ensinou o Pequeno Príncipe que, para ter obediência, é preciso dar ordens razoáveis e que possam ser cumpridas. Na desculpa de que deve haver condições favoráveis para a obediência, esse escondia que na verdade ele era impotente com relação em governar alguém ou algo em seu planeta – já que era o único habitante. O desejo sobre poder e a hipocrisia são as lições passadas nesse planeta. O segundo planeta representava a vaidade, pois seu único habitante exigia prestígios, elogios e aplausos a todo o momento. O Pequeno Príncipe então questionou “para que lhe serve isso?”, uma questão difícil de se responder uma vez que a vaidade, no mal sentido, é um ato mesquinho e que não tem utilidade para fazer bem a outras pessoas.

No próximo planeta havia um bêbado que bebia para esquecer que tinha vergonha de si mesmo por beber. Um ciclo vicioso que o impossibilita de ver além e perceber que aquilo não fazia sentido algum. No quarto planeta havia um empresário com a lógica semelhante à do bêbado: contava estrelas, as possuía e usava as estrelas que tinha para comprar mais estrelas. Nem mesmo tinha tempo para acender seu cigarro, sempre focado em contas gigantescas para medir o quanto ele era rico e o quanto mais poderia ficar. Afinal, para que servem os aplausos, as quantias de estrelas, a obediência e o paradoxo do bêbado senão apenas encher a vida destes com práticas inúteis e infundadas? O empresário se dizia um homem ocupado, mas para qual finalidade? Justamente porque o “ter” é mais valorizado do que o “ser”. Ter poder, prestígio, objetos de valor dentre outras coisas prende o ser a situações que não o leva a nada de fato com valor.

O quinto planeta era pequeno e havia nele apenas um lampião e um acendedor de lampiões que era responsável por ligar e desligar a iluminação. Ele se queixava que seu trabalho era muito cansativo, uma vez que nesse planeta cada dia tem um minuto de duração, tendo ele então de acender e apagar o lampião conforme manda o regulamento. Antes os dias eram mais longos, por isso o trabalho dele era mais fácil e fazia sentido. Embora a rotação de seu planeta tenha aumentado o regulamento não mudou e ele continuou alienado a esse processo sem contestar se era plausível e viável diante das situações atuais. Muitas das vezes nos prendemos a normas e regulamentos que não percebemos que tudo seria mais fácil se fossemos flexíveis às mudanças e nos limitássemos menos aos procedimentos. No sexto planeta um geógrafo estava em situação semelhante. Ele não havia nada de seu planeta para catalogar porque ele simplesmente não podia ir desbravar seu território. Segundo ele, apenas exploradores podem ir a campo pesquisar e levar os dados coletados ao geógrafo que somente cataloga e coloca em livros. Limitado por sua profissão, ele perde muita coisa que poderia ser importante como, por exemplo, catalogar a rosa do Pequeno Príncipe de seu planeta. A visão míope o impede de ver que sua profissão o tornou obsoleto, uma vez que depende de outra para funcionar.

O ultimo planeta que o Pequeno Príncipe visitou foi a Terra, uma lugar onde há milhares de reis, vaidosos, bêbados, empresários e geógrafos. Ele aprendeu na Terra, através da raposa que se tornou sua amiga, a amar sua rosa que havia deixado sozinha e desprotegida em seu planeta. Com a célebre frase “O essencial é invisível aos olhos”, a raposa o fez perceber que deveria ter dado valor a rosa, ela é única no mundo para ele. Os laços que eles criaram e o tempo que ele dedicou a ela a tornou insubstituível.

No dia a dia corrido e estressante muitas das vezes não nos damos conta de quantas incoerências praticamos. Buscar a felicidade em coisas superficiais é apenas o começo de uma seria de ignorâncias que cometemos. Deixar que a vida passe sem ao menos ter vivido como se quer. A felicidade pode ser encontrada em coisas grandiosas ou pequenas, mas em grande parte ela se faz nas situações que importam de fato para a pessoa. Cada um de nós é único e insubstituível, por isso é muito subjetivo definir o que é realmente importante na vida. Por essa razão o autor Antoine de Saint-Exupéry traz uma relatividade em “o essencial é invisível aos olhos” e “só se vê bem com o coração”, dessa forma cada um pode refletir sobre o que é importante para si.

A busca persistente pelo inexistente

Maria Eduarda Regis Amadeu


Título do livro: O conto da ilha desconhecida
Autor: José Saramago 

O livro “O conto da ilha desconhecida”, de José Saramago, é classificado como um conto, por conta de ser uma leitura rápida e breve. Ele também é considerado uma fábula, ou seja, é um texto curto, que contém uma lição de moral em seu término representado pela metáfora, que nada mais é do que uma comparação entre dois termos, com representações simbólicas para explicar uma situação contida no mundo real. Além dessas características, o livro proporciona aos leitores uma escrita muito diferente do que normalmente costuma-se ver, de uma maneira que não é comum utiliza-la na forma cotidiana. Usa-se muito o pronome “tu” e o verbo de ligação “és”, além do livro todo ser escrito sem pontuações, usando apenas vírgulas e pontos finais.

A leitura, de uma forma simplificada, conta a história de um homem que vai até o rei e lhe pede um barco. Porém, para transmitir uma mensagem ao rei, a pessoa deve bater na porta das petições, onde é atendida pela mulher da limpeza, que passa a sua mensagem para terceiros, até chegar ao ouvido do rei. Logo, essas são as três personagens do livro: o rei, o homem e a mulher da limpeza.

O homem é a pessoa que pede um barco ao rei, com o intuito de ir à procura de uma ilha desconhecida, insistindo que ela existe, mesmo todos dizendo que não. Por esse fato, pode-se ver claramente que ele é um homem determinado e que tem confiança naquilo que quer, ficando até “cego” por não enxergar as outras coisas que existem ao seu redor, visando apenas o seu desejo.

Como a leitura do livro é uma fábula, sua história tem como finalidade ensinar uma lição ao seus leitores. E, ao longo da história, pode-se ver que a principal mensagem transmitida é: muitas vezes o ser humano busca por algo que não existe (uma ilusão), quando o que a pessoa realmente precisa está ao seu lado e ao alcance das mãos, como por exemplo as pessoas que amam, que querem o bem, ou simplesmente aquilo que alimenta a alma, e são esses pequenos detalhes que dão sentido à vida, sendo que muitas vezes aquilo que um ser busca não é algo tão importante quanto. Relacionando-se esse fato com a história, ela se encaixa quando a mulher da limpeza está acompanhada do homem no barco e se vê triste, porque percebe que o homem só tem olhos em encontrar a ilha desconhecida, e não tem olhos para ela. No caso, o homem precisaria apenas de uma pessoa ao seu lado, prevalecendo o amor, e não de estar isolado, à procura de algo que não seja tão preciso e que talvez nem exista.

O livro tem aspectos bem diferentes da maioria, o que torna-o interessante, como seu formato de escrita e sua pontuação são colocadas e a maneira como a história é contada. Sua leitura pode ter várias interpretações e até ter um não entendimento diante de alguns leitores em relação a qual mensagem o livro quer transmitir. Uma pessoa que tenha oportunidade de ler esse livro, seria uma experiência interessante e valeria a pena.

Lembranças da Minha Terra

Ana Lucia Pereira da Silva


Recentemente, tem-se notado que a cultura regional brasileira vem sendo deixada de lado e não tem recebido a atenção que merece. O termo cultura regional é usado para designar os costumes de cada região brasileira; neste aspecto, é levado em conta o fato de que tudo é modificado pela cultura que esta inserida e pelo meio no qual está inserido.

Em um país como o Brasil que, desde cedo, tem recebido uma grande inserção de culturas variadas em seu território, ainda é uma surpresa encontrar diferenças enormes entre regiões. Um dos fatores que mais evidenciam isso é a culinária típica, nela é possível notar a impressionante forma de como cada região consegue desenvolver seu estilo próprio e colocar nos alimentos sua cultura.

Tendo uma extensão de terra tão grande como o do Brasil, é difícil manter uma correlação de entre as culturas regionais, pois em certos lugares uma acaba sobrepondo a outra. Por isso, a iniciativa de introduzir elementos de outras regiões na onde se vive são sempre vista com bons olhos e beneficiam não somente aqueles relacionados na iniciativa como também pessoas que pertençam a essa região e por algum motivo tiveram que se mudarem.

Por outro lado, mesmo que lentamente as pessoas têm fornecido meios de fazer com que a cultura regional seja algo compartilhado com todos para que assim possa se conhecer realmente em sua totalidade o país em que se vive.

Por fim, já não restam dúvidas que a cultura regional deva ser algo muito discutido, posteriormente e a atenção devida seja dada, mas mesmo assim temos evoluído muito neste aspecto e estamos proporcionando meios de trazer a cultura de outras regiões para o cotidiano, como, por exemplo, cafeterias e restaurantes com temas baseados na cultura nordestina. O Brasil tem uma rica cultura ainda ignorada, mas que esperançosamente espera-se que possa ser disseminada, primeiramente nacionalmente para que então pensar em introduzi-la em outros países.

Um desabrochar para o mundo

Talisson dos Santos Ribeiro

Hibisco Roxo
Chimamanda Ngozi Adichie

Hibisco Roxo, da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, narra o colapso de uma família diante do fanatismo religioso de seu chefe. A narrativa se desenrola na Nigéria e conta a história da família de Kambili, a protagonista e também narradora da mesma; que é assombrada pela figura de seu pai, Eugene, um capitalista detentor de grandes posses e fanático cristão que impõe a ela, à sua mãe, Beatrice, e a seu irmão, Jaja, um padrão de comportamento extremamente rígido e opressor pautados pela doutrina católica.
A tirania e obsessão de seu Eugene se manifestam fortemente no comportamento de Kambili, uma adolescente tímida, retraída, solitária e paranoica que mede suas ações e até mesmo seus pensamentos com base nas reações e nas possíveis e severas punições que seu pai infligir-lhe-ia caso as julgassem impróprias, pecaminosas e não condizentes com a doutrina católica. Como quando ele queima seus pés com água quente ao descobrir que ela dormiu sob o mesmo teto que seu avô (um dos raros seguidores que ainda são devotos às crenças regionais nigerianas e que não sucumbiu à maciça colonização cristã imposta pelos conquistadores brancos europeus no país e com o qual Eugene rompeu definitivamente o vínculo paterno por considerá-lo pagão e profano) numa visita à casa de sua tia Ifeoma (professora universitária e figura de grande admiração e inspiração para Kambili). Através do contato que Kambili tem com sua tia e com seus primos (Amaka e Obiora, adolescentes mais esclarecidos e rebeldes, ao contrário dela e de seu irmão que vivem perseguidos e acuados pela sombra de Eugene), ela, gradativamente, vai se libertando das “garras” de seu pai. É um processo de “desabrochar” para o mundo, semelhante àquele sofrido pela variedade de plantas que crescem no jardim de sua casa, em especial os hibiscos roxos, flores raras que são objetos de muita cobiça. Por meio da convivência com a família de sua tia, Kambili conhece o padre Amadi por quem desenvolve uma paixão. Devido à instabilidade política e econômica da Nigéria, sua tia e seus primos se mudam para os Estados Unidos e o padre Amadi é enviado à Alemanha como missionário, motivos de grande tristeza, solidão e desamparo para ela. Ao mesmo tempo, seu pai é encontrado morto em uma de suas fábricas e, logo em seguida, seu irmão é preso ao confessor ser o responsável pela morte dele ao tê-lo envenenado.
O fanatismo religioso de Eugene e as drásticas consequências que ele acarretou à família de Kambili nos remetem, num contexto social mais amplo, ao sofrimento e a tragédia causada pelos grupos fanáticos e extremistas do Oriente Médio. Como o autointitulado Estado Islâmico, que está devastando países como a Síria, por meio de sua “guerra santa”; expulsando famílias de suas casas, cometendo assassinatos bárbaros de forma deliberada e espalhando terror pelo mundo, justificando tamanhas atrocidades com a doutrina religiosa à qual são devotos (o Islamismo).
Em síntese, Hibisco Roxo, nos transmite uma mensagem de liberdade ao nos mostrar o florescer de uma adolescente em meio à tirania e à opressão causadas pela obsessão de seu pai em obedecer à risca uma doutrina religiosa. A obra também faz um retrato sobre a realidade da Nigéria e os efeitos devastadores que a colonização branca causou em todo o continente africano de modo geral. A trama também nos atenta sobre a importância crucial e extremamente necessária da tolerância e do respeito às diferenças, sejam elas de quaisquer natureza. Um livro que merece ser lido e que, certamente, terá um lugar cativo na memória de quem o ler pela reflexão que proporciona e pela lição que nos ensina.