10 de setembro de 2018

Sinto muito

Pedro Augusto Vieira

Não,
Isso não é um pedido de desculpas.
É apenas, 
Um desabafo

Aprendi que quem sente muito,
Se machuca muito.
Uma relação intermitente, 
Entre a razão e um coração doente.

Nunca penso no suficiente,
Pois o suficiente não cabe em mim. 
Não quero o raso,
Quero intensidade.

Desde que a conheci,
Não penso direito,
Não durmo direito,
Só sinto.

E muito.

P.A.V

Like no luto

Amanda Medeiros 

Dá um zoom nesse filtro maneiro.
Responde minha pesquisa sobre se a maquiagem no corpo morto ficou bonita.
Posso postar privacidade emocional o dia inteiro.
Seja no Face, Twitter ou Instagram.

Não sei ao certo se minha liberdade de expressão faz eu me sentir livre.
Também não sei delimitar quais fronteiras meus posts ultrapassam.
Corre sob meus dedos as mídias que manipulo minhas expressões.
Nesse velório a vontade é que meus receios compartilhados se façam.

Amém...
Ou curtir


Noru Isla



(Poesia baseada em um comportamento atual sobre compartilhar emoções privadas, como o luto nas redes sociais).

Manifesto sobre “Respeito familiar”


Rebeca Moreno Caetano 

Venho hoje defender a ideia de que nenhum familiar deve ser respeitado, pois o respeito deixa as pessoas alheias às ideias das outras e ignorante a novos conhecimentos e ensinamentos; além disso, as deixam com traumas infantis causados pelo autoritarismo com o qual os pais se montam e ainda fazem de base para a criação de seus filhos.
Desde a infância somos exigidos a respeitar nossos pais. Cale-se e me respeite. Me respeite, sou mais velho. Me respeite, eu que te sustento. E com esse respeito, desde pequenos temos dúvidas: porquê temos que ficar quietos, e entender o lado dos mais velhos, se, às vezes, nós também temos razão? Como saber se estamos errados? Como saber quando deve-se melhorar e de que maneira? Como saber se expressar sem faltar com o respeito? Quando na verdade o respeito é apenas uma desculpa para os mais velhos serem autoritários, para não precisarem mudar de pensamento, de atitude, de ideia.
Mesmo sabendo que para o responsável é mais fácil impor o respeito do que expor o motivo, ele deve levar em conta de que a criança está sempre com dúvidas sobre as questões da vida, que nenhuma criança sabe o limite das coisas, mesmo que aos poucos ela vai aprendendo isso, e ao não conseguir respostas e ajuda com seus pais, essa criança buscará outra pessoa, outro apoio, outra explicação, que, na maioria das vezes, não é o melhor, e com isso criará sua base de pensamentos a partir de uma ideia equivocada de alguém que pode não ter boas intenções.
Os traumas infantis causados pelo autoritarismo em que os pais tratam seus filhos causam problemas até a vida adulta. Com um pai impondo respeito e não explicando o motivo de seus atos faz com que uma criança torne-se insegura, sempre achando que o que ela pensa é errado, que vai contra os valores de sua família, sem entender-se completamente.
Ao não respeitar o seu pai, sua mãe ou seu responsável, geraremos um mundo com mais entendimento, onde não apenas as crianças e adolescentes devem entender seus pais, mas todos devem tentar colocar-se no lugar do outro, com empatia, para termos relações mais saudáveis com os nossos familiares, pois além deles nos explicarem o motivo de suas atitudes, eles também entenderão o motivo das nossas, logo, evitando traumas e inseguranças que um "cale-se e me respeite" geram por anos.

A Rotina

Aline Ramos de Oliveira 

Seis horas da manhã,
Celular desperta.
Hummm, hora de acordar,
Escovar os dentes, tomar banho e se arrumar.

 Dirige-se a cozinha,
 Subconsciente diz algo...
 Melhor verificar a hora.
 UFA! Ainda restam quinze minutos.

Toma café tranquilamente,
Quando vai ver a hora voou.
POXA VIDA! Mais um dia atrasado.

CORRE! O ônibus está perto.
Transporte público lotado,
Tem nem onde se apoiar.
DROGA DE TRANSPORTE!
Por quê tenho que fazer isso todo dia?

Desce, corre novamente.
A empresa está perto,
Você consegue vencer o trânsito.



Lembra daquela reunião importante
QUE VOCÊ NÃO QUER IR.
 Não entende mais o porquê daquilo.
 Procura constantemente razões para ser serviço, ser esforço.
 Culpa a rotina.
 DROGA DE ROTINA, POR QUE VOCÊ EXISTE?

Mas, só um momento...
A culpa não é a rotina.
A culpa é da falta de motivação,
Seu chefe nunca te elogia, né? Nada de reconhecimento.
A culpa é da monotonia, você está cansado de não ver sentido no que faz.
Falta ânimo, falta autoria, falta se sentir autor do seu projeto, do seu produto.

Não culpe a rotina,
Ela é importante,
Ajuda a manter as coisas em dia.
Procure reconhecimento, estar vivo no que faz.
Não se deixe robotizar.
Sua vida irá melhorar.

Transporte... De quê? De quem? Para onde?

Jorge Aoki 

Ao longo do curto espaço de tempo que alguns chamam de vida, acostumamos a encostar no próximo e extrair dele sempre o melhor que nos convier. Somos um povo naturalmente antiético e problemático, independentemente do nível de educação, financeiro ou da região onde mora. 
Desde criança vejo como verdades que os trens da cidade em que eu escolhi para viver são lentos e preguiçosos, sujos, lotados de gente mal-educada, e muito, mas muito ineficientes. E de um jeito bastante jocoso, ainda conseguimos fazer piada com tudo isso.
Com o passar de poucos anos de trabalho duro e intenso para conseguir me locomover pela cidade diariamente pude constatar algumas coisas. Sempre perguntei-me por que os carros do metrô e CPTM são tão lentos e vagarosos, sofrendo com tantos problemas técnicos. Afinal, após tantos aumentos do preço da tarifa da passagem, até o cidadão mais "desligado" poderia inferir que os transportes melhorariam. Não é o que vemos hoje. Infelizmente. Ou não.
Como podemos cobrar transportes eficientes sem nos tornarmos usuários mais eficientes?
Lotamos cada carro dos trens como se ele fosse o último a passar naquele dia. Impedimos o fechamento das portas para forçar a nossa entrada nos carros. Gastamos tempo e raciocínio para identificar que nas portas de determinados carros há um dispositivo que pode ser acionado (perigosamente) com dois dedos impedindo a abertura daquela porta nas estações, consequentemente impedindo o acesso de mais usuários. Gastamos tempo e raciocínio para descobrir que as portas entre carros de alguns modelos de composição podem ser abertas com um alicate de unhas. Gastamos tempo e raciocínio para descobrir que há brechas na segurança entre estações e que assim é possível atravessar os trilhos andando de um lado a outro. Gastamos tempo e raciocínio nos vestindo de super-herói e invadindo os trilhos para atear fogo e tentar parar o trem com a mão...
Podemos mesmo inferir que o transporte metropolitano não funciona direito? Quando foi que esses transportes ficaram desse jeito? Estranhamente, na iminência de um feriado prolongado eles passam a ter uma eficiência assombrosa. Até mesmo sendo mais rápidos do que o estimado por sistemas de mapas e GPS. São limpos! E ninguém amassa a sua bagagem de tal forma que a sua marmita chegue (mesmo com travas na tampa) aberta no seu destino. Seria então o problema o excesso de usuários? Embora especialistas e o governo possam afirmar que sim, ainda posso inferir que o problema não é esse.
E se aguardássemos a descida de todos os usuários antes de entrar? E se utilizássemos o celular apenas o necessário para poder se segurar dignamente sem se apoiar no ser humano ao lado? E se evitássemos segurar as portas dos carros para aguardar a entrada do coleguinha deixássemos de evitar a sua abertura nas estações para que as pessoas de boa índole e ainda com um pouco de bom senso evitassem entrar naquele carro ou mesmo naquela porta, apenas porque ela fica próxima a uma escada rolante? E se organizássemos uma fila na hora de pegar uma escada rolante ou mesmo para entrar nos carros da composição?
Sim, são muitos “e se” ... Mas e se cada um de nós, usuários do metrô ou da CPTM adotássemos ao menos um desses “E se”?

3 de setembro de 2018

Quem desconhece o que conhece?


Jorge Aoki

De autoria do renomado e já falecido escritor português José Saramago (José de Souza Saramago), O Conto da Ilha Desconhecida foi lançado em 1997 em Portugal pela editora Assírio & Alvim, e logo em seguida no Brasil pela Editora das Letras. É um livro pequeno, de rápida leitura e fácil compreensão. Este conto traz a história de um homem que queria um barco para viajar e procurar por uma Ilha Desconhecida. Fugindo dos traços habituais do escritor, a história toda passa-se de forma bastante dinâmica, e porque não dizer, fluída como a mente humana. Aliás, a história toda é contada em formato de fábula, fazendo alusão aos tempos das grandes navegações e descobertas, reinos com governantes preguiçosos e uma ótica muito bem-humorada sobre a saga do homem que queria um barco.
Acredito que todo o conto faça uma grande analogia com o nosso íntimo mais profundo. Ler O Conto da Ilha Desconhecida fez com que eu navegasse por mares que há muito tempo não visitava. Alusivamente, me reencontrei mais jovem quando eu também queria um barco. Busquei por vários e vários reinos, esperei e “bati o pé” até que eu pudesse ter um barco para ir atrás da minha Ilha Desconhecida. Capitães e Marinheiros riram e debocharam de mim quando eu expunha minha vontade de me lançar ao mar e buscar tal Ilha. Recebi um barco um dia e também levei (quase a contragosto) uma tripulante para o meu barco. Dentro desse barco vi todos os meus sonhos e pesadelos evanescerem e renascerem. Minha tripulante passou pela porta das decisões e decidiu invadir o meu barco. E lá ela se instalou. Limpou a casa, arrumou tudo e ainda me ajudou a dar direção à viagem, afinal, mesmo conhecendo muito bem esse barco, nem sempre eu fui um piloto habilidoso, e por muitas vezes tive uma auxiliar imediata ao meu lado. Esse companheirismo transcendeu oceanos e ilhas, conhecidas, desconhecidas, desejadas e as vezes um pouco indesejadas... E tudo isso poderia acabar como em um típico romance japonês, aqueles do tipo em que todo mundo morre no final, ou como num best seller adolescente e tudo terminar num “feliz para sempre”. Porém, que não foi isso que eu decidi quando passei pela minha porta das decisões. Minha história, assim como a de todos que conhecerem O Conto da Ilha Desconhecida, se funde à história do livro, se confunde em muitos aspectos e termina em uma grande reflexão.
O universo criado ali por José Saramago é mais do que um simples conto juvenil como classificam as livrarias. É muito mais do que isso. É um conto apaixonante, inebriante e reflexivo. Por este motivo eu afirmo todos os dias: Eu encontrei a minha Ilha Desconhecida e Eu continuo a procura-la todos os dias.






Dedicado a minha esposa
Te amo Encrenca da Minha Vida!