Vitor Trindade
As interações sociais, conflitos
ideológicos e choques materiais, escrevem a história e moldam a sociedade,
fragmentando-a e dando início a novas formas de organizações. Tal conceito,
identificado como Materialismo Histórico-Dialético, proposto por Karl Marx,
faz-se presente nas alterações dos modos de produção. Essas alterações levaram,
gradativamente, ao surgimento do capitalismo, sistema baseado em acúmulo de
capital e privatização das propriedades. Esta privatização fez com que o
trabalhador perdesse o domínio sobre os meios de produção (MARX, 1867) tendo
que, portanto, vender a sua força de trabalho. A mecanização desta levou à
alienação do trabalhador, não se reconhecendo no bem produzido/serviço prestado.
Em Por
Que Fazemos o Que Fazemos? (Mário S. Cortella, 2016), especificamente no
capítulo 2, o autor retoma a ideia de alienação e acrescenta que a mecanização
do trabalho – introduzida no Taylorismo/Fordismo - ocasiona perda de autenticidade,
o que é fatal para as empresas no contexto econômico contemporâneo.
Infelizmente, essa robotização do
trabalho tem impactos mais graves em outros âmbitos, a longo prazo.
Segundo o educador Paulo Freire, “Se a
educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”
(FREIRE, 2000). Tendo isto em vista, nota-se a origem e os efeitos agravantes
da alienação, fruto do conhecimento especializado. Este conhecimento professado
em larga escala pelas faculdades, formam profissionais bem treinados e
preparados para ingressarem no mercado de trabalho, mas não para romper as
barreiras deste. Desta forma, a cada turma de formandos, mais se perpetua o
ciclo de alienação. Se faz necessária, então, uma reformulação no sistema de
ensino atual, a fim de aumentar as faculdades mentais dos estudantes, tornando-os
capazes de promoverem criações próprias, aumentando o autoconhecimento na
atividade exercida, ao invés de agregarem à roda de alienação e peças
descartáveis.
A pergunta que leva o título da obra de
Cortella é essencial para que se note que a resposta desta está além de buscar
segurança e adquirir bens. A mecanização do trabalhador, no período atual, não
diz respeito ao exercer de tarefas manuais repetitivas, e sim no nivelamento,
padronização e fim pré-determinado das capacidades intelectuais em produção
vertical, colocando no mercado, ao fim de cada semestre, peças perfeitamente
encaixáveis nos moldes atuais, sem apresentar riscos ao sistema.