Mateus Freitas da Silva
Hoje eu acordei e me lembrei
de você. Já faz tanto tempo que nem consigo mais chorar. A saudade já se tornou
algo normal para mim, mesmo assim ainda me recordo de você todas as vezes que
olho pela janela e vejo a neve cair. É tão besta, mas tão forte. Eu não
esperava que isso fosse acontecer. Eu me lembro de você dizer que um dia
iriamos nos casar; que um dia iriamos ter a nossa casa e eu teria você por
todos os dias. Nossos sonhos eram maiores que a gente, mas eu não me importava,
pois o modo como você falava me convencia de que éramos capazes de realizar
todos eles.
Esses momentos estão gravados em
minha memória, em minha alma e são eles que me fazem levantar todos os dias. Eu
vivo para você, assim como eu também morreria por você. Eu te amo e não
precisaria usar um anel bobo para provar isso. Eu não precisaria dizer para
todos que te amo, pois todos perceberiam o quanto eu te amo. Mas, eu não tenho
você aqui comigo e sinto muito por não poder ser feliz com você em nossa casa.
Eu sinto muito por não ser forte o suficiente para enfrentar o mundo por nós. Eu
tenho medo de te perder, medo de machucarem você. Eu fico pensando enquanto
observo outros casais, porque eles podem se amar, se beijar, andar de mãos
dadas e eu não posso nem te dar um abraço. O que fizemos para as pessoas nos
odiarem tanto? Eu me sinto péssimo todas as vezes que me lembro de você
apanhando na minha frente. Meu amor, você estava tão ferido. Os seus olhos
estavam apavorados. As suas roupas estavam sujar de poeira e sangue. E eu
estava caído, impotente, fraco e impossibilitado de levantar, apenas assistindo
o amor da minha vida apanhar até desmaiar. São momentos como esses que me
deixam furioso, mas me lembro que depois que os garotos foram embora, você
conseguiu sorrir para mim e foi através desse sorriso que consegui ter forças
para me levantar e te ajudar. Mesmo a beira da morte, você tentou me confortar.
Você tentou dizer que tudo estava bem. Mas não estava e nunca iria estar, pois
eu tenho medo de você sair e nunca mais voltar.
Claro que não quero lembrar apenas
de coisas tristes, pois tivemos momentos maravilhosos. Lembro-me da primavera -
aquela de dois anos atrás -. Você estava tão lindo com sua blusa jeans. Seu
rosto estava com uma expressão tão leve e feliz, um sorriso lindo. Quando
estávamos sentados no chão você me disse palavras tão bonitas. Essas mesmas
palavras me fazem ficar bem até hoje. Palavras que me consolam e que me lembram
seu olhar alegre, sua voz calma, como se não existisse nenhum problema. Mas não
estou na primavera e essa neve parece que nunca mais irá parar de cair, assim
como o meu mundo. Se eu pudesse passar uma semana com você, provavelmente
iriamos nos divertir bastante, eu daria tudo para realizar esse momento. Faz tempo
que não escuto a sua risada; faz tempo que não ouço você dizer o meu nome e sinto
tanto a sua falta. Eu não quero ser meloso,
mas como eu queria que você estivesse aqui.
Mike, eu até posso,
tecnicamente, viver sem você. Mas eu não quero. A ciência não entende os meus
sentimentos por você. Na verdade, se alguém entendesse não nos achariam loucos.
Mas agora estou aqui contando as horas para te ver novamente. Será que vai
demorar? Não vejo a hora de ver você caminhando pelo corredor até entrar pela
porta do quarto, com a sua caneca favorita na mão. E eu? Bom, eu estarei
deitado na cama observando o quão sortudo sou. Espero que você esteja bem. Eu, Peter, escrevo esta carta no dia 20 de
Abril de 1943, França. Se você não é o Mike e leu essa carta, então significa
que eu falhei.