20 de março de 2017

Contos da quebrada

Illan Yukio


Vivendo em periferia o jovem encontra a dificuldade de descobrir seu caminho em meio a tanta confusão, crescendo sem medo, se viu no crime para poder se sustentar e todo dia ele pedia perdão para sua mãe:
-Desculpa mãe por te fazer chorar, sei que a senhora tentou me avisar que vida bandida não iria compensar, tanto lutou para doutor eu me formar, mas foi a ganância que me impediu de escutar... Será na escola do crime que irei me formar.
O garoto sai em busca de mais um de seus esquemas, se junta com o bando no baile de sexta-feira, ostentando seus malotes de dinheiro de procedência dúbia.
Ele sabe que é um poder que vicia, que é difícil contê-lo. Sempre indo atrás de mais e desafiando o sistema pois desde pequeno era problema, crescendo sem medo de algema, fazendo do dinheiro parte do seu dilema:
“Inimigos vão brotar, de olho no meu lugar” – pensou enquanto fugia dos oficiais da lei. Porém ocorreu o cerco, sem pensar ele aponta sua arma para um civil e o coloca como refém. Não demora para os repórteres chegarem no local e acompanharem de perto seu último suspiro.
-Avisa pra eles que meu “bonde” não vai recuar. Se quiserem minha cabeça podem vir buscar!!!

Aonde ele chegou não conseguiu parar, no entanto seu jogo era bruto e em uma travessa sua sorte se pôs a provar. Essa frase foi noticiada na mídia local e sua mãe com a mão no peito via a cena das viaturas cercando seu filho no noticiário da tarde. Seu destino não foi bom como sua vida e no fim das contas o povo observava sua mãe chorando pela alma do filho no local onde foi baleado.

RESPIRE

Mateus Freitas da Silva 


...Abra os olhos, é um novo dia, porém com uma rotina velha. O trem está cheio, o ônibus está quebrado, as estradas estão travadas e você está só. Um som interfere em sua música, mas parece não te incomodar, afinal, você já está acostumado ao mundo ignorar. Ligar a rádio não lhe parece uma má ideia, mas será que o conteúdo transmitido será novamente sobre a miséria? Pois bem, você devora a sua barra de cereal, dó de você que nem tempo para se alimentar direito tem. Mas de acordo com a rádio, fique feliz, pelo menos uma barra de cereal você tem. 
   O céu está cinza, os prédios são cinza, o chão é cinza, será que você se tornará cinza também? Ou se destacará  desse quadro cinza como uma árvore com belas flores amarelas? Não importa. Café quente na mão, sentado no corrimão, esperando o busão, hoje realmente não está no padrão. Mas quem se importa com você? Desde que não chegue atrasado não haverás problemas, mas você já está passando por um problemão. Já se passaram 50 minutos, falta falar com os amigos virtualmente, pois ninguém tem tempo para se encontrar como antigamente. Oi, Como vai? Estou bem. A conversa termina e seus olhos se voltam para o mundo, aliás, que “belo” mundo.     
   Alguém estica o braço para te pedir uma moeda, mas simplesmente o ignora, você tem problemas demais para se preocupar com os dele. Você segue em frente, vira à direita, depois à esquerda, direita, esquerda, aliás, você é de Direita ou de Esquerda? Não importa. Continue caminhando, continue, continue, é preciso continuar. Faltam apenas 600 metros para o seu destino chegar. 
   Fones nos ouvidos e chaves na mão, bolsa nas costas pesando um montão. O suor desce pelo o seu rosto parecendo lágrimas. Lágrimas de cansaço, dor e calor. Se aproximando dos 200 metros você se depara com um cruzamento, mas está com pressa e não pode parar, não pode parar, não pode parar, pensa. Verde, amarelo, vermelho, você pensa em correr antes do verde aparecer, mas o vermelho pisca te alertando, seus pés querem correr, o farol quer te parar. Corra. Você corre disparadamente, assim como o veículo preto de alto padrão também. Os dois se chocam e a música nos seus ouvidos acaba. Então respire e...