8 de abril de 2016

Destino

Às vezes pergunto-me o que realmente significa destino. Vejo todas as coisas incríveis que ocorrem diariamente: o fato de que, sempre que atravesso uma rua, o farol fecha-se exatamente no momento em que piso na calçada, terminando a travessia. Ou então, o horóscopo exibido nas TVs do metrô, que me fazem rir diante da precisão de suas previsões gratuitas. Como explicar pequenos acontecimentos que tomam cursos tão coincidentes?
Às vezes pergunto-me se realmente existe destino. Penso se as coisas incríveis deveriam mesmo acontecer. Talvez algum dia, quem sabe, a travessia pontual torne-se um horrível acidente de trânsito. O tão curioso horóscopo poderia fazer afirmações irrelevantes para mim. Pequenos acontecimentos permaneceriam pequenos, sem nosso gratuito engrandecimento.
Seria o destino uma tradição em atribuir certa solenidade aos eventos mais ínfimos? Como se a vida fosse uma novela que demanda emoção em todas as suas cenas? Ou a tentativa humana de despejar os pesares colhidos em sua horta de desilusão nas plantações alheias? Uma criação para impedir-nos de criar bodes expiatórios entre nós, atirando a culpa para o intangível?
Verdade ou mentira, faz diferença? Certa vez disseram-me: “cada um vê o que quer”. Não acredito nisto. Vemos o mesmo, apenas interpretamos à nossa conveniência. Temos o poder de atribuir sentido ao que presenciamos; o sentido vem de dentro, não de fora. Nossa mente faz relações estranhas e, então, passamos a ver padrões na aleatoriedade.

Afinal, descubro a condição da existência do destino: ser racional, mas não o suficiente.

Jeferson de Almeida
Administração SP

Lamento Cronológico

Da manhã à noite, sigo enjaulado
Quantas horas passadas
No cotidiano indesejado

Olho ao relógio, buscando alento
Acompanhando suas estaladas
Encontro algum divertimento

Volta completa, meio dia acabado
Pelas horas perdidas
Sinto-me meio ultrajado

O tempo não volta? Não há retorno?
Ideias tão desesperançadas
Coisa de louco!

Assim, relógio, lhe peço
Em meu martírio diário
Porque não caminhar
No sentido anti-horário?

Das oito às cinco
Nove não é necessário
Contento-me com três

Fazendo a volta ao contrário

Jeferson de Almeida
Administração SP

Tudo Que Preciso

Não sei quanto tempo estive desacordado, só sei que não esperaria acordar num lugar assim. Deitado, tento ficar de pé, ao que meus músculos reclamam. Com algum esforço, levanto metade de meu corpo, o suficiente para olhar ao redor. Encontro-me numa casa vazia, parecida com a qual estive esses dias; diferencio-as pela enorme quantidade de armadilhas e modificações que existem na minha. “Sem contar que os móveis aqui são bem velhos. Será que alguém ainda mora aqui”.
No instante em que penso nisso, ouço uma alguém murmurar ao fim do corredor. Assustado, logo me ponho de pé, tentando encontrar um esconderijo em meio à escuridão. Uma voz rouca ressoa pela sala:
- Acalme-se, jovem. Não precisa se esconder. Sei que aí está.
O som grave de suas cordas vocais invade meus ouvidos recém-acordados. Vejo uma figura fantasmagórica se aproximar. “E bota fantasmagórica nisso!”. Não acredito no que vejo: ele flutua!
- Sim, sim, meu caro. Sou exatamente que pensa que sou.
- Mas como? - pergunto incrédulo.
- Todos morrem um dia - “Como pode dizer isso assim?”.
- Você não parece morto para mim - replico.
- Talvez não, na prática. Mas, na teoria, já morri.
Preciso de uma pausa para entender o que acontece. Um morto - ou fantasma? - aparece diante de mim e, sem nenhum impedimento, revela sua condição. “Acho que ainda não acordei”.
- Ok, senhor fantasma. Que faz aqui?
- Vivo cá. Não posso sair. E você?
- Estou perdido.
- Entendo.
- Mas, espera aí, disse que não pode sair daqui. Por quê?
- Até poderia, mas não viveria muito.
- Você já morreu, não tem o viver mesmo.
- Você entendeu.
- Não, não mesmo. Porque ficar num lugar assim?
- Cá estou por essas bandas há mais de cem anos. Cá tenho tudo que preciso.
- Tá falando daquele dildo rosa ali encima?
- Não seja idiota. Aliás - começa, com uma expressão carrancuda - Caso cá tenhas vindo para perturbar-me, peço-lhe que se retire.
- Não. vim, pois estou perdido. Já te disse, certo?
- Com vossa mentalidade. Explicado. - “Não achei viveria para ser criticado por um fantasma!”.
- Ok. Deixemos isso de lado. Disse que aqui tem tudo de que precisa. Mas, o que exatamente?
Ele aproxima-se, enquanto olha ao redor em um momento de contemplação.
- A atmosfera - “What. Mas o que? Que tipo de resposta é essa?”.
- Como assim? Tipo a pressão do ar ou a quantidade de gases? - arrisco.
- Não - ele diz enquanto dirige-se a uma estante - O ambiente. Veja - ele aponta para ela- essas são de minha infância.
Vejo o lugar que ele mostra. Alguns porta-retratos antigos jazem caídos sobre a mobília. Vejo algumas fotos de família. Pego um dos quadros. A poeira densa cobre totalmente a imagem. O limpo com a manga de minha camiseta e, assim, consigo ver o conteúdo: duas crianças aparentando certa tensão agarram-se à barra do vestido de uma jovem de sorriso vívido.
- Essa é minha mãe, Janele - ele lança um olhar respeitoso sobre a foto - e meu irmão, Leo - ele aponta para o jovem da direita.
- Este outro é você?
- Sim.
Coloco o quadro na altura de meus olhos e observo a imagem.
- Realmente - começo - é uma linda foto.
- Concordo. É uma de minhas preferidas.
- Hum. Parece haver várias boas fotografias aqui.
- Sim. Mas, a maioria, não mais consigo ver.
- E por quê?
- Olhe - ele aponta novamente, mas desta vez para uma cômoda.
Vejo diversos retratos deitados sobre o móvel.
- Já entendi.
- Lado ruim de ser um fantasma. Não posso arrumar os objetos.
- Lado ruim de ser um fantasma - repito as palavras, um tanto quanto incrédulo, então pergunto - E qual é o lado bom?
- Contemplar existências como a sua.
- Isso é ironia?
- Ironizar, porque não?
- Hey. Não projete suas frustrações para cima de mim. Afinal qual o sentido de viver desta forma?
Vejo-o respirar fundo. “E lá vamos nós!”
- Vejamos - ele esvoaça em direção ao centro da sala - E quanto a sua existência: há algum sentido?
- Nós damos sentido a nós mesmos.
- Boa resposta - ele aplaude, com uma expressão sagaz - E, se somos a mesma espécie, o que te faz crer que não posso dar sentido à minha?
- Haha. Sim, é válido. Mas há uma questão fundamental. O tempo! Não creio que seja possível viver tanto tempo em condições como a sua: solitariamente, sem poder tocar nada; recluso em si mesmo.
- Ora - ele ri sarcasticamente - se não é possível, como explica o fato de eu cá estar? - “É Johnatan, seu idiota”.
- Haha. Tudo bem, você me pegou nesse ponto, mas no que você empreende seu vasto tempo livre? Não há espaço para aplicação de nada; nada para fazer.
- E porque eu deveria?
- Ora, seres humanos sentem o impulso de deixar sua marca.
- Eu não.
- Chega - começo a irritar-me - Você não pode fazer nada e não quer fazer nada, como pode dizer que há lado bom nisso?
- Deixe-me lhe perguntar - ele lança-me um olhar rígido - Quanto você estiver no meu lugar: o que fará?
- Não seria como você diz. Faria algo.
- O que, por exemplo? - sinto a frieza em seu olhar
- Ora, nós humanos temos algo chamado razão, isso transcende a materialidade. Gastaria meu tempo desfrutando dela.
- Mas enquanto à aplicação dela? Você se contentaria em apenas pensar e nada fazer? Como seria ter um mundo dentro de sua mente e um vácuo fora dela? Eu posso lhe dizer - uma pausa - Você morreria.
- O que? - digo, mais gaguejando do que falando - Morrer, depois de morto?
- Quase isso. Você enlouqueceria. Não haveria ninguém para te salvar. Sua mente desvaneceria até o ponto da inércia. Isso é a morte de fato, não carnal, mas espiritual. Sua existência reduzida a migalhas.
- Como? - esforço-me para soltar as palavras.
- É simples - ele diz, mantendo sua expressão fria – Do que adianta ter razão se não a usamos sabiamente? - um olhar penetrante – Que tal dar sua vida em nome de um projeto que jamais terminará, ou almejar coisas que certamente lhe renderão sofrimento? Durante cada instante, fragmentos de si vão desvanecendo, a cada problema. Desesperança, desilusão e dúvida. Esses três ds malignos corroem o ser humano, e não são os únicos. - uma pausa - E depois da morte, será que tudo isso passa? Não, claro que não. Tudo só piora! Você verá toda a desgraça e nada poderá fazer. Agora você entende porque vivo aqui, isoladamente, não entende? Ou acha que gosto de ser um espectador passivo da realidade cruel que envolve o mundo. É nisso que empreenderá seu vasto tempo livre?- uma última pausa - A maior dádiva dos homens é também sua maldição.
Ele sumariza tudo de forma tão certeira que fico sem palavras. Observo meu interlocutor descrever uma volta no entorno da sala, enquanto tenta recupera o fôlego. O silêncio absoluto faz-me refletir no que acabo de ouvir. Como contestar tudo isso? Mesmo que houvesse palavras para dizer, elas não o alcançariam; a essa altura, nem minhas próprias palavras me convenceriam do contrário. Sempre considerei a racionalidade como o alicerce dos humanos, porém tudo que ela faz é nos colocar num círculo de autodestruição. E o pior: ela se encarrega de nos deixar conscientes disso. Sinto que fui longe demais, mas ainda há algo para dizer. Mesmo contrariado, eu começo:
- Então, para que serve a razão?
- Simples - olho-o avidamente - A razão deve reconhecer sua limitação. Deve reconhecer que há só algo capaz de nos manter sãos.
- E o que é? - pergunto, atropelando as palavras.
- A atmosfera - “What. Buguei!”.
Como se estivesse lendo meus pensamentos, ele aponta novamente para os retratos. Ao ver todas essas imagens, sinto vir à tona o sentimento de que o tempo é implacável e de que não como fugir dele. Tudo envelhece e torna-se obsoleto. Ou nem tudo. Há uma coisa que transcende a materialidade tão quanto a razão. “Acho que entendi. O que seria de nós sem as pessoas com quem compartilhamos nossos preciosos momentos que, ao final, tornar-se-ão lembranças? O que seria de nós se nosso raciocínio não nos remete-se às coisas boas que nos envolvem, a felicidade que retemos?. Acho que entendi”.
Levanto um dos quadros que estavam virados para baixo. Não sei desde quanto tempo ele estive desta forma e, caso eu não aparecesse por aqui, ficaria assim por muito mais. Pela primeira vez desde minha chegada, o vejo sorrir; não um sorriso de desdém, mas um sorriso genuíno, que vale por cem anos de solidão. Tão raro quanto à oportunidade de conversar com um fantasma. Tão precioso quanto o conhecimento que acabo de adquirir. Talvez eu tenha me precipitado: o que eu vim fazer aqui? “Chatear uma alma solitária e mortificada pelo tempo? Acho que devo um pedido de desculpas”.

- Então - olho para ele - Aqui, diante de vós, jaz esse humano limitado - ele lança-me um olha de desgosto; ou de arrependimento? - Mas talvez eu ainda seja útil para algo - nossos olhares encontram-se - Quem sabe eu não possa te ajudar com a limpeza - como resposta, um sorriso e um aceno de cabeça; isso é tudo que preciso.

Jeferson de Almeida
Administração SP

Flashes na Escuridão

É meia-noite. O vilarejo encontra-se sob trevas, ao que as luzes das últimas casas apagam-se. Enquanto todos jazem em suas casas a fim de encarar mais uma gélida noite de inverno, ao sul, vê-se um flash por entre as árvores. Em uma pequena clareira, dois homens conversam aos sussurros:
- Desliga essa lanterna. Por acaso quer que nos descubram?
- Como você espera que eu veja alguma coisa nesse breu todo?
A cena que se assiste ali é, certamente, algo pouco usual. Nesta época do ano, em uma região tão afastada dos grandes centros, dois jovens encontram-se numa floresta pouco explorada. Seus aspectos nada habituais e suas vestes incompatíveis com o ambiente demonstram que eles não são daqui.
- Tudo pronto. Vamos!
As horas passam; a madrugada já vai tarde e com ela vem o silêncio absoluto, interrompido somente pelo som dos animais noturnos. À frente, vê-se uma pequena cabana.
- Quem pensaria em morar aí?
- Isso não importa. Tem certeza que eles estão aí?
- Eu já disse que sim.
- Tudo bem. Vamos bater.
Após certo tempo vivendo desta forma, a gente acaba descobrindo algumas formas de diversão. Quem diria que jogar pôquer sozinho no meio da mata poderia ser tão interessante. Estava prestes a jogar meu Full House quando ouço batidas na porta.
Sinto meu coração acelerar. “O que faço? Calma, John. Pense! O que alguém viria fazer aqui há essas horas? Será que estamos sendo seguidos? Impossível! Talvez seja apenas alguém procurando por ajuda. Mas, porque vir justo aqui? Estamos no meio do nada, qual a probabilidade disso acontecer?” Não importa; “Tenho que acordar a Ju”.
- Patrão, está demorando demais.
- Olha só. Você falou que era aqui. É bom ser mesmo.
- Eu tenho certeza.
- Ah é, é? Então por que...
De repente, a porta é aberta.
- Pois não.
Os dois não conseguem disfarçar o susto que levaram. Isso não é bom: afinal, se você bate a porte de alguém, porque se assustar quando ela é aberta? Percebendo o silêncio, o morador inicia o diálogo:
- Vocês vão dizer alguma coisa?
- Desculpe - começa um deles - É que estamos perdidos, gostaríamos de saber se vocês poderiam nos ajudar.
- O que querem de nós?
O homem ergue sua sobrancelha. Uma estranha sensação corre seu corpo. Suor escorre em suas têmporas. Como é possível suar em meio a esse frio congelante? Ele tenta recompor-se.
- Bem, é... Bom, será que a gente poderia passar a noite aqui?
- Vocês? Passarem a noite aqui? Claro que não. Mal os conheço!
- Por favor. Não fazem ideia de como é difícil suportar essas condições.
- Garanto-lhe que sabemos melhor que vocês.
- Mas é só por uma noite.
- Pessoas morrem em uma noite?
O homem engole em seco. A frieza deste jovem diante de si, seu modo enfático de falar, tudo soa estranho e perturbador. Percebendo outra vez o silêncio, o ele recomeça:
- Muito bem. Posso até deixá-los entrar - ele pousa seu olhar em ambos - se vocês responderem a três perguntas.
- Qualquer coisa! - responde um deles, impacientando-se.
- Certo. Lá vai a primeira: São da região?
- Não - respondem - Somos da cidade! - diz um - Primeira vez por aqui! - complementa o outro.
- Pois bem. Então, a segunda: Que fazem aqui?
- Viemos conhecer o vilarejo - afirma um deles.
- Entendo. Aqui vai a última - ele alterna seu olhar entre ambos - Porque me chama de vocês?
Os dois trocam olhares atônitos - Como assim? - exclamam.
- Vou explicar melhor - torna John, maliciosamente - Não são da região, e não a conhecem. Vieram visitá-la, mas já a madrugada já vai tarde, ninguém sai para passear no bosque há essas horas, certo? Além do mais, mesmo que estivessem perdidos, certamente não cairiam para esses lados. Agora, quanto ao "vocês", é óbvio, não? Nada sabem sobre essas bandas, mas falam como se soubessem que estou acompanhado.
Um arrepio sobre a espinha do primeiro, o segundo deixa escapar um grunhido. Droga: eles foram descobertos!
Em seguida, dois estalos e flashes de luz iluminam a escuridão. Ambos caem ao solo, desmaiados.
- É querida - começa John - vamos ter que nos mudar de novo.
- Que pena - diz uma garota, ainda mais jovem que todos, com uma teaser em sua mão - agora que comecei a gostar daqui - completa, rindo.
- Pois é. Mas, a gente arranja um lugar ainda melhor pra ficar.
- Assim espero - diz ela, pondo fim ao diálogo.

O som dos pássaros matinais não deixa dúvidas: termina aqui mais uma movimentada noite. Os dois carregam os corpos para dentro para dar cabo das “cautelas de praxe”. Logo após, os dois seguirão em sua empreitada para revelar os mistérios que os envolvem. Ao fundo, o Sol surge tímido por de trás das colinas. Trazendo a esperança de dias de paz.

Jeferson de Almeida
Administração SP

O Estrangeiro (Albert Camus)



Que relação existe entre a morte de uma mãe e o assassinato de um árabe? Essa é uma das várias questões que surgem da leitura de O Estrangeiro, de Albert Camus; a curta incursão de Mersault entre esses dois fatos e seu inusitado julgamento.
Esse indivíduo de meia-idade nos é apresentado durante os acontecimentos que envolvem a morte de sua mãe, que estava internada em um asilo, por escolha mútua. Até aí, nada demais. O que intriga é sua recepção da notícia. Certamente, ele não age de acordo com o estereótipo de um homem tomado pela tristeza gerada pelo óbito de um ente querido. O primeiro trecho do livro exemplifica bem: “Hoje, mamãe morreu. Ou ontem, não sei bem”.
Mas o que acontece posteriormente também não é nada usual: quem pensaria em assistir uma hilariante comédia no dia seguinte ao velório, em companhia de Marie, sua pretendente? Não obstante, alguns dias depois, ele parte para um maravilhoso passeio na praia, em companhia de seus amigos. Assim ele leva sua vida, sem deixar-se abalar por nada, como um observador inócuo.
Porém, as coisas começam a mudar com o fatídico assassinato. Se ao menos houvesse motivo! A execução fria, impulsiva e desnecessária leva Mersault a ser detido, o que lhe faz perder sua liberdade (e seus cigarros). Inicialmente, tudo corre da melhor maneira possível, até que ele descobre que, os exagerados atenuantes de seu crime, podem levar-no à forca.
Em suma, o livro trata sobre a insólita vida de um homem, o estrangeiro de uma sociedade comum, que inspira marasmo e expira indiferença. A sequência de fatos é transposta por passagens de apatia e desinteresse que intrigam o leitor, cativando e fazendo-o querer conhecer o desfecho que aguarda o protagonista; uma narrativa paradoxalmente interessante: embora Mersault pareça ser um homem condenado pela vida e pela sociedade, há uma luz ao fim do túnel para ele: em raros momentos, é possível notar seus sentimentos aflorando; seja no desejo que sente por Marie, ou no desespero vívido vivenciado por si na cadeia. Afinal, nosso estrangeiro adquiri o sentimentalismo mundano (mesmo que debilmente), não diferente de outros forasteiros, que aprendem a língua ou incorporam costumes de outro país.

Este é o tipo de livro que, ora você recomendaria a todos, ora a ninguém. Camus parece fazer isso propositalmente, com sua narrativa plana e que, apesar de neutra, ora nos faz adorar Mersault, ora odiá-lo; um banquete para os insensíveis.


Jeferson de Almeida
Administração SP