É
meia-noite. O vilarejo encontra-se sob trevas, ao que as luzes das últimas
casas apagam-se. Enquanto todos jazem em suas casas a fim de encarar mais uma
gélida noite de inverno, ao sul, vê-se um flash
por entre as árvores. Em uma pequena clareira, dois homens conversam aos
sussurros:
-
Desliga essa lanterna. Por acaso quer que nos descubram?
-
Como você espera que eu veja alguma coisa nesse breu todo?
A
cena que se assiste ali é, certamente, algo pouco usual. Nesta época do ano, em
uma região tão afastada dos grandes centros, dois jovens encontram-se numa
floresta pouco explorada. Seus aspectos nada habituais e suas vestes
incompatíveis com o ambiente demonstram que eles não são daqui.
-
Tudo pronto. Vamos!
As
horas passam; a madrugada já vai tarde e com ela vem o silêncio absoluto,
interrompido somente pelo som dos animais noturnos. À frente, vê-se uma pequena
cabana.
-
Quem pensaria em morar aí?
-
Isso não importa. Tem certeza que eles estão aí?
-
Eu já disse que sim.
- Tudo bem. Vamos bater.
Após
certo tempo vivendo desta forma, a gente acaba descobrindo algumas formas de
diversão. Quem diria que jogar pôquer sozinho no meio da mata poderia ser tão
interessante. Estava prestes a jogar meu Full House quando ouço batidas na
porta.
Sinto
meu coração acelerar. “O que faço? Calma, John. Pense! O que alguém viria fazer
aqui há essas horas? Será que estamos sendo seguidos? Impossível! Talvez seja
apenas alguém procurando por ajuda. Mas, porque vir justo aqui? Estamos no meio do nada, qual a probabilidade disso acontecer?” Não importa; “Tenho
que acordar a Ju”.
-
Patrão, está demorando demais.
-
Olha só. Você falou que era aqui. É bom ser mesmo.
-
Eu tenho certeza.
-
Ah é, é? Então por que...
De
repente, a porta é aberta.
-
Pois não.
Os
dois não conseguem disfarçar o susto que levaram. Isso não é bom: afinal, se
você bate a porte de alguém, porque se assustar quando ela é aberta? Percebendo
o silêncio, o morador inicia o diálogo:
-
Vocês vão dizer alguma coisa?
-
Desculpe - começa um deles - É que estamos perdidos, gostaríamos de saber se
vocês poderiam nos ajudar.
-
O que querem de nós?
O
homem ergue sua sobrancelha. Uma estranha sensação corre seu corpo. Suor
escorre em suas têmporas. Como é possível suar em meio a esse frio congelante?
Ele tenta recompor-se.
-
Bem, é... Bom, será que a gente poderia passar a noite aqui?
-
Vocês? Passarem a noite aqui? Claro que não. Mal os conheço!
-
Por favor. Não fazem ideia de como é difícil suportar essas condições.
-
Garanto-lhe que sabemos melhor que
vocês.
-
Mas é só por uma noite.
-
Pessoas morrem em uma noite?
O
homem engole em seco. A frieza deste jovem diante de si, seu modo enfático de
falar, tudo soa estranho e perturbador. Percebendo outra vez o silêncio, o ele
recomeça:
-
Muito bem. Posso até deixá-los entrar - ele pousa seu olhar em ambos - se vocês
responderem a três perguntas.
-
Qualquer coisa! - responde um deles, impacientando-se.
-
Certo. Lá vai a primeira: São da região?
-
Não - respondem - Somos da cidade! - diz um - Primeira vez por aqui! -
complementa o outro.
-
Pois bem. Então, a segunda: Que fazem aqui?
-
Viemos conhecer o vilarejo - afirma um deles.
-
Entendo. Aqui vai a última - ele alterna seu olhar entre ambos - Porque me
chama de vocês?
Os
dois trocam olhares atônitos - Como
assim? - exclamam.
-
Vou explicar melhor - torna John, maliciosamente - Não são da região, e não a conhecem.
Vieram visitá-la, mas já a madrugada já vai tarde, ninguém sai para passear no
bosque há essas horas, certo? Além do mais, mesmo que estivessem perdidos,
certamente não cairiam para esses lados. Agora, quanto ao "vocês", é
óbvio, não? Nada sabem sobre essas bandas, mas falam como se soubessem que
estou acompanhado.
Um
arrepio sobre a espinha do primeiro, o segundo deixa escapar um grunhido.
Droga: eles foram descobertos!
Em
seguida, dois estalos e flashes de
luz iluminam a escuridão. Ambos caem ao solo, desmaiados.
-
É querida - começa John - vamos ter que nos mudar de novo.
-
Que pena - diz uma garota, ainda mais jovem que todos, com uma teaser em sua mão - agora que comecei a
gostar daqui - completa, rindo.
-
Pois é. Mas, a gente arranja um lugar ainda melhor pra ficar.
-
Assim espero - diz ela, pondo fim ao diálogo.
O
som dos pássaros matinais não deixa dúvidas: termina aqui mais uma movimentada
noite. Os dois carregam os corpos para dentro para dar cabo das “cautelas de
praxe”. Logo após, os dois seguirão em sua empreitada para revelar os mistérios
que os envolvem. Ao fundo, o Sol surge tímido por de trás das colinas. Trazendo
a esperança de dias de paz.
Jeferson de Almeida
Administração SP
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