8 de abril de 2016

O Estrangeiro (Albert Camus)



Que relação existe entre a morte de uma mãe e o assassinato de um árabe? Essa é uma das várias questões que surgem da leitura de O Estrangeiro, de Albert Camus; a curta incursão de Mersault entre esses dois fatos e seu inusitado julgamento.
Esse indivíduo de meia-idade nos é apresentado durante os acontecimentos que envolvem a morte de sua mãe, que estava internada em um asilo, por escolha mútua. Até aí, nada demais. O que intriga é sua recepção da notícia. Certamente, ele não age de acordo com o estereótipo de um homem tomado pela tristeza gerada pelo óbito de um ente querido. O primeiro trecho do livro exemplifica bem: “Hoje, mamãe morreu. Ou ontem, não sei bem”.
Mas o que acontece posteriormente também não é nada usual: quem pensaria em assistir uma hilariante comédia no dia seguinte ao velório, em companhia de Marie, sua pretendente? Não obstante, alguns dias depois, ele parte para um maravilhoso passeio na praia, em companhia de seus amigos. Assim ele leva sua vida, sem deixar-se abalar por nada, como um observador inócuo.
Porém, as coisas começam a mudar com o fatídico assassinato. Se ao menos houvesse motivo! A execução fria, impulsiva e desnecessária leva Mersault a ser detido, o que lhe faz perder sua liberdade (e seus cigarros). Inicialmente, tudo corre da melhor maneira possível, até que ele descobre que, os exagerados atenuantes de seu crime, podem levar-no à forca.
Em suma, o livro trata sobre a insólita vida de um homem, o estrangeiro de uma sociedade comum, que inspira marasmo e expira indiferença. A sequência de fatos é transposta por passagens de apatia e desinteresse que intrigam o leitor, cativando e fazendo-o querer conhecer o desfecho que aguarda o protagonista; uma narrativa paradoxalmente interessante: embora Mersault pareça ser um homem condenado pela vida e pela sociedade, há uma luz ao fim do túnel para ele: em raros momentos, é possível notar seus sentimentos aflorando; seja no desejo que sente por Marie, ou no desespero vívido vivenciado por si na cadeia. Afinal, nosso estrangeiro adquiri o sentimentalismo mundano (mesmo que debilmente), não diferente de outros forasteiros, que aprendem a língua ou incorporam costumes de outro país.

Este é o tipo de livro que, ora você recomendaria a todos, ora a ninguém. Camus parece fazer isso propositalmente, com sua narrativa plana e que, apesar de neutra, ora nos faz adorar Mersault, ora odiá-lo; um banquete para os insensíveis.


Jeferson de Almeida
Administração SP

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