18 de outubro de 2019

Coringa - Análise Crítica


Criado em 1940 por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane, Coringa é um icônico vilão dos quadrinhos do Batman. Sendo parcialmente inspirado no personagem Gwynplaine do filme “O Homem Que Ri” (1928), o vilão é retratado como um palhaço de terno roxo, cabelos verdes e sempre carregando o seu famoso e caricato sorriso. Não se engane pensando que por ser um personagem de quadrinhos, ele é um vilão mais leve e destinado a crianças. O Coringa tem diversos feitos macabros ao decorrer de sua história, como o assassinato de Jason Todd (o segundo Robin, parceiro do Batman), causou paralisia e há indícios de um possível estupro de Barbara Gordon (outra parceira do Batman, mais conhecida como Batgirl). O vilão também não possui uma história de origem oficial, sendo que muitos aceitam a história retratada no quadrinho ‘A Piada Mortal”, escrita por Alan Moore em 1988. Dito isso, é de se imaginar que desde o começo, um filme solo sobre um personagem caricato e pesado como esse seria uma jogada arriscada para o estúdio Warner Bros., e também não seria uma obra adequada a todos os públicos.
Dirigido pelo diretor Todd Phillips (Se Beber Não Case) e protagonizado pelo talentoso Joaquin Phoenix, o filme Coringa conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) que trabalha para uma agência de talentos e, devido a seus problemas mentais, faz consultas semanais com uma agente social. Após sua demissão, Fleck inicia um movimento popular contra a elite de Gotham  City, a qual possui Thomas Wayne (Brett Cullen) como seu maior representante.
Coringa certamente é um personagem muito importante na cultura pop de um modo geral, e o filme faz jus a sua fama. Com uma direção brilhante por parte de Todd Phillips que soube mostrar a loucura do personagem ao optar por planos longos e lentos ao invés de cortes brutos durante as cenas, sempre mantendo o foco da câmera no personagem principal, até mesmo nas cenas de delírio, o que faz com que o espectador mergulhe na mente caótica do Coringa. A montagem do filme e a trilha sonora passam um clima angustiante e desconfortante, que faz com que o espectador se sinta sempre incomodado com o que está assistindo, mas ao mesmo tempo intrigado pois as cenas são muito bem ligadas, o que faz com que o filme não perca o fôlego em momento algum de suas 2 horas de duração. A fotografia do filme, no início foca em cores mais escuras, sempre deixando um ar “depressivo”, e ao decorrer do filme, quando acontece a “transformação” de Arthur no Coringa, ela muda totalmente, adotando cores mais vibrantes. Outro ponto forte do filme, é a gloriosa atuação de Joaquin Phoenix, ator que facilmente concorrerá a diversas premiações por esse filme. Com uma performance teatral, Phoenix entrega um Coringa que passa por várias etapas de construção de personagem, começando inseguro e perdido e terminando como um personagem forte, seguro e louco. A icônica risada do personagem é feita com louvor pelo ator, inclusive sendo explorada pelo roteiro que a coloca como um transtorno, que faz com que o personagem sofra em diversas situações. O filme possui algumas falhas em seu roteiro, como não explicar a razão a qual a cidade abraçou a loucura do personagem tão facilmente, mas mesmo assim, o roteiro consegue beirar a perfeição e possuí diversos méritos como passar uma ambiguidade proposital causada pela loucura de Arthur, é bem difícil conseguir falar com firmeza o que aconteceu de verdade e o que aconteceu apenas na cabeça do personagem. Outro mérito do roteiro também é conseguir fazer com que se crie uma empatia pelo protagonista ao mesmo tem que não o trata como um herói ou coitado. Ao mesmo tempo que mostra que sim, Arthur sofreu, ele também mostra que suas atitudes foram sim erradas, pois o roteiro procura explicar o que aconteceu no passado do Coringa e em não justificar o seu presente.
Certamente é um dos melhores filmes da atualidade e vale ser assistido, porém, é um filme pesado. É uma obra que brinca com a loucura e que, de certa forma, pode mexer com o psicológico de algumas pessoas. Coringa não é um filme para qualquer um, e muito menos para crianças. Poderia facilmente não ser inspirado em um quadrinho e ser uma obra a parte de como um homem comum passou por diversos problemas em sua vida e se tornou um psicopata que enxerga prazer e satisfação ao matar. Não acredito que seja um filme que irá provocar massacres como muitos dizem, mas também não acredito que seja um filme inofensivo, é um filme que ao assistir não te dará uma sensação boa e sim lhe trará uma angústia e um sentimento de incômodo, por tanto, se você for uma pessoa que não esteja passando por uma boa fase ou possua algum tipo de pensamento angustiante, não recomendo que o veja, pelo menos, nesse primeiro momento. Daqui alguns meses o filme estará presente em todas as plataformas possíveis, vale mais aguardar e poder desfrutar por completo do filme do que querer forçar algo que possa-lhe fazer mal de alguma forma. 


Pedro Sperli
11.117.530-3

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