18 de junho de 2017

Um desabrochar para o mundo

Talisson dos Santos Ribeiro

Hibisco Roxo
Chimamanda Ngozi Adichie

Hibisco Roxo, da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, narra o colapso de uma família diante do fanatismo religioso de seu chefe. A narrativa se desenrola na Nigéria e conta a história da família de Kambili, a protagonista e também narradora da mesma; que é assombrada pela figura de seu pai, Eugene, um capitalista detentor de grandes posses e fanático cristão que impõe a ela, à sua mãe, Beatrice, e a seu irmão, Jaja, um padrão de comportamento extremamente rígido e opressor pautados pela doutrina católica.
A tirania e obsessão de seu Eugene se manifestam fortemente no comportamento de Kambili, uma adolescente tímida, retraída, solitária e paranoica que mede suas ações e até mesmo seus pensamentos com base nas reações e nas possíveis e severas punições que seu pai infligir-lhe-ia caso as julgassem impróprias, pecaminosas e não condizentes com a doutrina católica. Como quando ele queima seus pés com água quente ao descobrir que ela dormiu sob o mesmo teto que seu avô (um dos raros seguidores que ainda são devotos às crenças regionais nigerianas e que não sucumbiu à maciça colonização cristã imposta pelos conquistadores brancos europeus no país e com o qual Eugene rompeu definitivamente o vínculo paterno por considerá-lo pagão e profano) numa visita à casa de sua tia Ifeoma (professora universitária e figura de grande admiração e inspiração para Kambili). Através do contato que Kambili tem com sua tia e com seus primos (Amaka e Obiora, adolescentes mais esclarecidos e rebeldes, ao contrário dela e de seu irmão que vivem perseguidos e acuados pela sombra de Eugene), ela, gradativamente, vai se libertando das “garras” de seu pai. É um processo de “desabrochar” para o mundo, semelhante àquele sofrido pela variedade de plantas que crescem no jardim de sua casa, em especial os hibiscos roxos, flores raras que são objetos de muita cobiça. Por meio da convivência com a família de sua tia, Kambili conhece o padre Amadi por quem desenvolve uma paixão. Devido à instabilidade política e econômica da Nigéria, sua tia e seus primos se mudam para os Estados Unidos e o padre Amadi é enviado à Alemanha como missionário, motivos de grande tristeza, solidão e desamparo para ela. Ao mesmo tempo, seu pai é encontrado morto em uma de suas fábricas e, logo em seguida, seu irmão é preso ao confessor ser o responsável pela morte dele ao tê-lo envenenado.
O fanatismo religioso de Eugene e as drásticas consequências que ele acarretou à família de Kambili nos remetem, num contexto social mais amplo, ao sofrimento e a tragédia causada pelos grupos fanáticos e extremistas do Oriente Médio. Como o autointitulado Estado Islâmico, que está devastando países como a Síria, por meio de sua “guerra santa”; expulsando famílias de suas casas, cometendo assassinatos bárbaros de forma deliberada e espalhando terror pelo mundo, justificando tamanhas atrocidades com a doutrina religiosa à qual são devotos (o Islamismo).
Em síntese, Hibisco Roxo, nos transmite uma mensagem de liberdade ao nos mostrar o florescer de uma adolescente em meio à tirania e à opressão causadas pela obsessão de seu pai em obedecer à risca uma doutrina religiosa. A obra também faz um retrato sobre a realidade da Nigéria e os efeitos devastadores que a colonização branca causou em todo o continente africano de modo geral. A trama também nos atenta sobre a importância crucial e extremamente necessária da tolerância e do respeito às diferenças, sejam elas de quaisquer natureza. Um livro que merece ser lido e que, certamente, terá um lugar cativo na memória de quem o ler pela reflexão que proporciona e pela lição que nos ensina.

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