10 de setembro de 2018

Transporte... De quê? De quem? Para onde?

Jorge Aoki 

Ao longo do curto espaço de tempo que alguns chamam de vida, acostumamos a encostar no próximo e extrair dele sempre o melhor que nos convier. Somos um povo naturalmente antiético e problemático, independentemente do nível de educação, financeiro ou da região onde mora. 
Desde criança vejo como verdades que os trens da cidade em que eu escolhi para viver são lentos e preguiçosos, sujos, lotados de gente mal-educada, e muito, mas muito ineficientes. E de um jeito bastante jocoso, ainda conseguimos fazer piada com tudo isso.
Com o passar de poucos anos de trabalho duro e intenso para conseguir me locomover pela cidade diariamente pude constatar algumas coisas. Sempre perguntei-me por que os carros do metrô e CPTM são tão lentos e vagarosos, sofrendo com tantos problemas técnicos. Afinal, após tantos aumentos do preço da tarifa da passagem, até o cidadão mais "desligado" poderia inferir que os transportes melhorariam. Não é o que vemos hoje. Infelizmente. Ou não.
Como podemos cobrar transportes eficientes sem nos tornarmos usuários mais eficientes?
Lotamos cada carro dos trens como se ele fosse o último a passar naquele dia. Impedimos o fechamento das portas para forçar a nossa entrada nos carros. Gastamos tempo e raciocínio para identificar que nas portas de determinados carros há um dispositivo que pode ser acionado (perigosamente) com dois dedos impedindo a abertura daquela porta nas estações, consequentemente impedindo o acesso de mais usuários. Gastamos tempo e raciocínio para descobrir que as portas entre carros de alguns modelos de composição podem ser abertas com um alicate de unhas. Gastamos tempo e raciocínio para descobrir que há brechas na segurança entre estações e que assim é possível atravessar os trilhos andando de um lado a outro. Gastamos tempo e raciocínio nos vestindo de super-herói e invadindo os trilhos para atear fogo e tentar parar o trem com a mão...
Podemos mesmo inferir que o transporte metropolitano não funciona direito? Quando foi que esses transportes ficaram desse jeito? Estranhamente, na iminência de um feriado prolongado eles passam a ter uma eficiência assombrosa. Até mesmo sendo mais rápidos do que o estimado por sistemas de mapas e GPS. São limpos! E ninguém amassa a sua bagagem de tal forma que a sua marmita chegue (mesmo com travas na tampa) aberta no seu destino. Seria então o problema o excesso de usuários? Embora especialistas e o governo possam afirmar que sim, ainda posso inferir que o problema não é esse.
E se aguardássemos a descida de todos os usuários antes de entrar? E se utilizássemos o celular apenas o necessário para poder se segurar dignamente sem se apoiar no ser humano ao lado? E se evitássemos segurar as portas dos carros para aguardar a entrada do coleguinha deixássemos de evitar a sua abertura nas estações para que as pessoas de boa índole e ainda com um pouco de bom senso evitassem entrar naquele carro ou mesmo naquela porta, apenas porque ela fica próxima a uma escada rolante? E se organizássemos uma fila na hora de pegar uma escada rolante ou mesmo para entrar nos carros da composição?
Sim, são muitos “e se” ... Mas e se cada um de nós, usuários do metrô ou da CPTM adotássemos ao menos um desses “E se”?

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