Jorge Aoki
Ao longo do curto
espaço de tempo que alguns chamam de vida, acostumamos a encostar no próximo e
extrair dele sempre o melhor que nos convier. Somos um povo naturalmente
antiético e problemático, independentemente do nível de educação, financeiro ou
da região onde mora.
Desde criança vejo
como verdades que os trens da cidade em que eu escolhi para viver são lentos e
preguiçosos, sujos, lotados de gente mal-educada, e muito, mas muito
ineficientes. E de um jeito bastante jocoso, ainda conseguimos fazer piada com
tudo isso.
Com o passar de
poucos anos de trabalho duro e intenso para conseguir me locomover pela cidade
diariamente pude constatar algumas coisas. Sempre perguntei-me por que os
carros do metrô e CPTM são tão lentos e vagarosos, sofrendo com tantos
problemas técnicos. Afinal, após tantos aumentos do preço da tarifa da passagem,
até o cidadão mais "desligado" poderia inferir que os transportes
melhorariam. Não é o que vemos hoje. Infelizmente. Ou não.
Como podemos cobrar
transportes eficientes sem nos tornarmos usuários mais eficientes?
Lotamos cada carro
dos trens como se ele fosse o último a passar naquele dia. Impedimos o
fechamento das portas para forçar a nossa entrada nos carros. Gastamos tempo e
raciocínio para identificar que nas portas de determinados carros há um
dispositivo que pode ser acionado (perigosamente) com dois dedos impedindo a
abertura daquela porta nas estações, consequentemente impedindo o acesso de
mais usuários. Gastamos tempo e raciocínio para descobrir que as portas entre
carros de alguns modelos de composição podem ser abertas com um alicate de
unhas. Gastamos tempo e raciocínio para descobrir que há brechas na segurança
entre estações e que assim é possível atravessar os trilhos andando de um lado
a outro. Gastamos tempo e raciocínio nos vestindo de super-herói e invadindo os
trilhos para atear fogo e tentar parar o trem com a mão...
Podemos mesmo
inferir que o transporte metropolitano não funciona direito? Quando foi que
esses transportes ficaram desse jeito? Estranhamente, na iminência de um
feriado prolongado eles passam a ter uma eficiência assombrosa. Até mesmo sendo
mais rápidos do que o estimado por sistemas de mapas e GPS. São limpos! E
ninguém amassa a sua bagagem de tal forma que a sua marmita chegue (mesmo com
travas na tampa) aberta no seu destino. Seria então o problema o excesso de
usuários? Embora especialistas e o governo possam afirmar que sim, ainda posso
inferir que o problema não é esse.
E se aguardássemos
a descida de todos os usuários antes de entrar? E se utilizássemos o celular
apenas o necessário para poder se segurar dignamente sem se apoiar no ser
humano ao lado? E se evitássemos segurar as portas dos carros para aguardar a
entrada do coleguinha deixássemos de evitar a sua abertura nas estações para
que as pessoas de boa índole e ainda com um pouco de bom senso evitassem entrar
naquele carro ou mesmo naquela porta, apenas porque ela fica próxima a uma
escada rolante? E se organizássemos uma fila na hora de pegar uma escada
rolante ou mesmo para entrar nos carros da composição?
Sim, são muitos “e se”
... Mas e se cada um de nós, usuários do metrô ou da CPTM adotássemos ao menos
um desses “E se”?
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